Chefs de cozinha encabeçam o Marco em Defesa da Cultura Alimentar do Brasil
COMER É UM ATO SÓCIO-POLÍTICO-AMBIENTAL.
A frase acima não tem partido e não levanta bandeira – é um fato.
Produzir alimento é atividade que mais consome água potável no planeta (cerca de 70% ), com mais profundo impacto nas questões de meio-ambiente (desmatamento, contaminação por agrotóxicos e antibióticos, emissão de gases causadores do efeito-estufa) e inexoravelmente ligada a problemas sociais como monoculturas que empurram pequenos produtores para fora do campo e assassinato de ambientalistas (somos o país que mais mata defensores ambientais e de direitos humanos no mundo).
Esse é um cenário bem preocupante por si só. E se torna ainda mais dramático com a real possibilidade do país ser presidido por um político de que já manifestou, diversas vezes, sua falta de apreço por questões ecológicas e minorias (como quilombolas e indígenas) e é largamente apoiado pela bancada ruralista.
Quando se fala de gastronomia brasileira, fala-se em biodiversidade. É nossa vastidão de espécies vegetais e animais presentes em biomas como Caatinga, Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica que tornam nosso país tão especial. Preocupados com a iminência de retrocedermos décadas na já difícil tarefa de preservar nossas riquezas naturais e culturais (gastronomia é cultura!), um grupo de jornalistas e chefs de cozinha, em parceria com a APEX, lançou o Marco em Defesa da Cultura Alimentar do Brasil.
Organizado por Georges Schnyder (Presidente do Slow Food Brasil) e Mariella Lazaretti (sócia da revista e plataforma de eventos Prazeres da Mesa), o Marco em Defesa da Cultura Alimentar do Brasil tem como intenção unir o mercado de gastronomia – chefs, cozinheiros, bartenders, confeiteiros, restaurateurs – em torno do tema, criar um canal de discussão direto com órgãos governamentais e levar ao público a mensagem antiga e sempre atual de que 'a união faz a força'.
O lançamento, realizado dia 23/10 no restaurante Tordesilhas, em São Paulo, contou com a presença de jornalistas do meio (eu, inclusive) e chefs como Bel Coelho, Helena Rizzo, Ana Luiza Trajano, Mara Salles, Alex Atala, Janaína Rueda e Guga Rocha.
Entre os pontos abordados no Marco, estão:
- Preservar o nosso patrimônio culinário, saberes ancestrais, e as manifestações culturais agregadas aos sistemas alimentares dos povos da floresta e das comunidades tradicionais brasileiras nos demais biomas, e em suas práticas de cultivo, manejo e extrativismo, assim como proteger nossos produtos autóctones.
- Propagar o não desperdício de alimentos, e sua distribuição igualitária, de maneira a alimentar todos os brasileiros.
- Lutar por alimentos livres de agrotóxicos, que respeitem os ciclos da natureza e o meio-ambiente.
- reconhecimento da Gastronomia do Brasil com o registro de Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Mais do que um pedaço de papel, o Marco é o início da união da classe em torno de assuntos essenciais como políticas públicas de incentivo a pequenos produtores (cerca de 70% do que comemos vem de agricultura familiar), diminuição do uso de defensivos no campo (que envenenam terra, ar, água e a população), regulação de pesca predatória, preservação de nossos biomas, valorização dos saberes e práticas das culinárias regionais brasileiras.
É o início de algo grande e belo se os egos forem colocados de lado – e as mãos, dadas. Por que estrelas, mesmo, são aqueles que produzem o que comemos.
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