PANCs: as plantas alimentícias não-convencionais estão na moda (que bom!)
Um dos meus petiscos favoritos são ramas de cenoura empanadas em ovo com curry e farinha de trigo, então assadas em forno alto. Mas até poucos anos atrás, eu jogava as ramas de cenoura fora sem nem pensar duas vezes. Aliás, quantas vezes você jogou? Quantas vezes já comprou as cenouras sem elas, da mesma maneira que ramas de beterraba, folhas de brócolis e de couve-flor, etc?
Pois apesar de cenoura ser um alimento bem conhecido, suas ramas são consideras PANCs (Plantas alimentícias não convencionais).
Plantas Alimentícias Não Convencionais são aquelas que a maioria das pessoas não se dá conta de sua função como alimento. Muitas, inclusive, são consideras matos ou ervas daninhas por crescerem espontaneamente nos quintais, campos e beiras de estrada. Também pode-se considerar PANCs algumas plantas comuns, como a bananeira, porque acabamos restringindo seu consumo a fruta, jogando fora as outras partes comestíveis como o coração (ou umbigo) e os frutos verdes.
Por que tanto desconhecimento? Bom, o que aconteceu foi que com o passar das décadas, a destruição de vários biomas, o crescimento do agronegócio e os processos sucessivos de seleção artificial, houve uma redução drástica no número de plantas que são empregadas na alimentação humana. Isso traz como consequência a perda de diversidade no prato, redução de fontes naturais de nutrientes e a necessidade de reposição por fontes artificiais, como suplementos. Outro fator que se elimina é a diversidade cultural, com o abandono de saberes tradicionais associados ao consumo de espécies de plantas de ocorrência local ou regional.
Ou seja: vivemos num país riquíssimo em ingredientes mas acabamos por consumir sempre as mesmas coisas. Sendo assim, a demanda se restringe a apenas dezenas de itens, que são plantados cada vez em maior quantidade para atender a demanda. Enquanto isso, milhares de espécies são esquecidas e, muitas delas, extintas.
Para que isso não ocorra – seria uma tragédia tanto do ponto de vista da biodiversidade quanto nutricional –, é necessário haver interesse do consumidor, que provavelmente só as descobrirá através de cozinheiros que as sirvam seus restaurantes e da imprensa. É o círculo virtuoso da informação. E essa crescente onda de informação sobre PANCs tem surtido efeito: começo a notar seu uso em menus de casas como Petí (usa bastante capuchinha), Tuju (vide foto), Clandestino (Bel Coelho faz uma bela conserva de vinagreira) e Quincho (ah, o peixinho da horta empanado!). Ainda são poucos os lugares nos quais estão disponíveis, porém são um importante ponto de partida para o resgate alimentar. O que hoje pode ser considerado moda por alguns, amanhã pode se tornar um hábito incorporado ao comportamento do brasileiro.
Para quem deseja saber mais sobre o assunto, aconselho conhecer o "Comer é PANC", que acontece até novembro no SESC Pompéia. Com curadoria da super nutricionista e pesquisadora Neide Rigo (de quem sou fã), o evento reúne atividades e palestras gratuitas. As próximas atividades acontecem dia 5 de setembro (aula sobre Cogumelos Comestíveis não Convencionais, com Marcelo Sulzbacher) e dia 19 de setembro, data na qual a chef Paola Carosella fala sobre o uso de PANC em restaurante e Responsabilidade Ambiental e Social.
Neide Rigo também promove incríveis passeios urbanos, em São Paulo, para busca e identificação de PANCs. Para saber novas datas do #Panccity, seu projeto, siga o Instagram dela.
Conheça abaixo algumas das tantas PANCs brasileiras.
Almeirão roxo
Das minhas verduras favoritas, também é conhecido como Almeirão Japonês e Chicória Amarga. Tem sabor bem mais suave do que o almeirão comum e pertence a mesma família da alface, do dente-de-leão e da serralha.
Beldroega
Também conhecida como caaponga, porcelana, onze-horas. Consumida em saladas, sopas, molhos e para engrossar caldos. Rica em vitamina C, ômega 3 e proteínas
Begônia
Suas flores podem ser consumidas cruas em saladas. Tem sabor refrescante, bem parecido ao do tomate verde.
Bertalha
Também conhecida por espinafre indiano. Planta trepadeira de folhas tenras que são consumidas refogadas em sopas, suflês e bolinhos.
Capuchinha
Também conhecida por Flor de Chagas, Chaguinha. Come-se as flores e folhas, que possuem grande quantidade de vitamina C. De sabor picante semelhante ao agrião.
Cará do ar
Planta trepadeira, produz tubérculos aéreos de cores branca, creme, roxa ou amarela.É rico em proteínas, carboidratos e potássio e alimento básico na Nigéria. Também conhecido como Cará Moela.
Chuchu de Vento
Também conhecido como maxixe peruano e taiuá. Seus frutos são consumidos em saladas, quando novos, ou refogados e recheados, quando adultos.
Vinagreira
Também conhecida como hibisco, caruru-azedo, quiabo-azedo, rosélia. São consumidas duas folhas e capuchos em saladas – cruas ou refogadas – e compotas e geleias.
Feijão Guandu
Leguminosa de sabor potente, é altamente resistente a climas secos e solos pobres. Ricos em proteínas e carboidratos.
Araçá do Campo
Da família da goiaba, a pequena fruta possui alto teor de vitaminas A, B, C, antioxidantes, carboidratos e proteínas.
Maria Gorda
Também conhecida por Major Gomes, João Gomes e língua de vaca. Rústica, tolerante a seca, rica em nutrientes, possui 500% mais ferro que o espinafre.
Peixinho da Horta
Também conhecida como lambari da horta e orelha de lebre, por sua textura peludinha. As folhas ficam deliciosas quando empanadas e fritas e remetem ao sabor do lambari.
Taioba
Originária da América do Sul, a taioba (Xanthosoma sagittifolium) é muito similar na aparência ao inhame (Colocasia esculenta), natural do Sudeste da Ásia. Contém baixo nível calórico e alto nível nutricional e sensação de saciedade, por possuir muitas fibras. Dela come-se as folhas – deliciosas refogadas -, e o rizoma, o Taiá
Taiá
Rizoma da Taioba, tem sabor parecido ao do inhame. Usa-se assado, cozido, em forma de purê ou frito. Por possuir muito amido, é ótimo espessante para caldos e sopas.
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