24 coisas que a indústria de alimentos prefere que você não saiba
Ailin Aleixo
13/09/2018 10h20
Delícia, né? A matéria-principal vem dos ossos, restos de couro, ligamentos, tendões e cartilagens de bois e porcos
Dependendo do objetivo pretendido pelo produto, os comerciais mostram o ato de comer como algo romântico, familiar, prático e/ ou ecológico. A publicidade e a indústria de alimentos adoram nos fazer pensar que os queijos são produzidos com leite de vaquinhas felizes que pastam ao por-do-sol e que o bacon estalando na frigideira nunca foi um porco vivo.
O fato é que as partes mais "feias" (também conhecidas como realidade) da produção de alimentos são propositalmente escondidas dos consumidores: manter-nos na ignorância nos impede de fazer escolhas mais sensatas. Nos impede de exigir mudanças. Nos mantém "na linha". Mas graças à democratização da informação e o aumento na produção e distribuição de documentários, fica cada dia mais fácil descobrir o que há por detrás do que a gente come (você já conhece meu canal de YouTube sobre o tema?).
Abaixo, algumas verdades 'inconvenientes' sobre o que povoa seu armário da cozinha e geladeira. E, por favor, não me venha com "ah, não quero nem saber": ignorar não é e nem nunca foi solução pra nada.
Salmão
- A grande parte do salmão consumido no mundo vem de fazendas marítimas espalhadas por países como Chile, Noruega e Canadá. O que é alardeado como um alimento saudável é, em realidade, um dos mais tóxicos do planeta por ser criado com excesso de antibióticos, corantes (naturais ou artificiais), ração de má qualidade e, muitas vezes, pesticidas.
- As imensas populações confinadas de salmão são muito vulneráveis a doenças, como o piolho do mar, que deixa o peixe adoentado e abre a porta para infecções oportunistas. Para manter os animais vivos, mesmo que doentes, os produtores abusam no uso de antibióticos. "O uso de produtos químicos afeta o meio ambiente e "'pode causar um dano importante no fundo do mar, na fauna circundante e na qualidade das águas'.
- O Chile sofre recorrentes embargos internacionais por usar excesso de antibióticos na produção de salmão.
- As doenças infecciosas do salmão de cativeiro vem se espalhando e, no Canadá, matando cada vez mais salmões selvagens.
Porcos
- Visando 'diminuir o odor da carne' derivado dos hormônios, os leitões entre 7 e 12 dias de vida são castrados sem anestesia, tendo seus sacos escrotais cortados e os testículos removidos.
- Também tem os dentes cortados ou lixados, sem anestesia, para evitar morderem um aos outros por conta do estresse que sofrem no confinamento – porcos são animais altamente inteligentes e sociáveis.
- Os leitões são habitualmente separados das suas mães depois de 2 a 4 semanas de vida, e são alojados com outros leitões que não conhecem. Se separados muito cedo, eles chamam pelas mães com sons frequentes e distintos.
- As porcas passam a maior parte das suas vidas em celas de gestação – tão pequenas, que elas mal se conseguem mexer e muito menos virar-se. São continuamente engravidadas, até que sejam abatidas.
- Por conta própria, os leitões tendem a ser desmamados com cerca de 15 semanas, mas nas criações industriais são desmamados com 15 dias – com essa idade, não conseguem digerir direito comida sólida, por isso recebem remédios contra diarreia.
Aves
- Por lei, no Brasil, o adensamento médio de aves é de 32 quilos por metro quadrado. Levando-se em conta que cada galinha atinge cerca de 1600 gramas, temos cerca de 20 aves por metro quadrado.
- Não há poleiros – parte do comportamento natural das aves é se empoleirar – e todas ficam no mesmo nível, o tempo todo, sobre o que é chamado de cama de frango.
- A legislação brasileira não permite a administração de hormônios para as aves. Promotores de crescimento/antibióticos estão liberados.
- O abate legal no Brasil se dá da seguinte maneira: as aves são penduradas em ganchos, pelos pés, e tem a cabeça mergulhada em água pela qual passa corrente elétrica alta suficiente para desacordá-la e baixa o bastante para não causar danos irreversíveis (hematomas ou morte). "Desmaiada", tem o pescoço cortado, segue para a sangria, para a depenagem em água fervendo e para a retirada dos órgãos internos por uma mão mecânica.
- As penas viram farinha, componente de ração de animais de estimação.
- 416 milhões de frangos abatidos por mês no Brasil, o que significa 13.800.000 por dia.
Gado
- Somos 207 milhões de brasileiros e temos 218 milhões de cabeças de gado (dados de 2016). Tem mais vaca que gente no Brasil. No planeta, o número de bovinos é de quase UM BILHÃO.
- Assim como para aves, caprinos, ovinos e suínos, é proibida no Brasil a utilização de hormônios para fins de engorda. Na criação convencional, antibióticos são liberados – e o volume usado é tão grande que já existe uma séria questão de resistência e criação de superbactérias. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, muitos criadores estão dando antibióticos para os animais sem nenhum tipo de controle. Isso cria não só resistência nos animais, mas também a transmissão dessa resistência para os humanos ao consumirem a carne.
- A pecuária é principal responsável pelo desmatamento da Amazônia e do Cerrado.
- Sabe aquela gelatina colorida que você come quanto está de dieta? É feita com o colágeno, um derivado de ossos, restos de couro, ligamentos, tendões e cartilagens. Com o colágeno também se faz cosméticos (xampus, máscaras faciais) Com os ossos se faz farinha que vai para ração de animais de estimação.
Vinho
- Existem mais de 250 aditivos permitidos por lei na produção de vinho. Eles podem ser usados desde os vinhedos (solo, uva) até o engarrafamento.
- Dá para corrigir a acidez usando ácido tartárico em pó; enzimas diversas podem ser utilizadas para alterar a cor, melhorar a limpidez, abrir ou melhorar os compostos aromáticos e acelerar ou não o envelhecimento; para clarificar, há o Polivinil Polipirrolidona, o PVPP (um composto plástico), usado com o nome de Divergan; clara de ovo e gelatina são especialmente eficazes na clarificação dos vinhos tintos; a caseína, uma proteína de leite, é usada para clarificar os vinhos brancos e rosados; se o vinho estiver sem cor, existem compostos como o conhecido Mega Purple para aprofundar a cor vermelha no vinho tinto; Bentonita sódica para estabilizar; Ichtyocolle, usado para clarificar, vem bexigas natatórias de peixes…
- Nenhum dos insumos precisa estar especificado no rótulo. A única exceção é o Anidrido sulfuroso (chamado de sulfito), um conservante.
Cerveja
- A legislação brasileira libera o uso de muitas substâncias químicas para acelerar a fabricação da cerveja, mais químicos para mascarar o que este processo rápido causou de ruim na bebida e ainda mais químicos para conservá-la e estabilizá-la depois de pronta – e a grande maioria deles não precisa ser declarado no rótulo.
- Sabe aquela cerveja preta docinha? Então, não leva nada de malte tostado, o que seria o correto. Ela é apenas a cerveja com muito corante caramelo, por isso fica escura e doce.
Sobre a autora
Ailin Aleixo é jornalista, e criadora do mais influente site de gastronomia e turismo gastronômico do país (Gastrolândia) e do canal de jornalismo gastronômico no YouTube, #ptdk. Ocupou o cargo de editora-executiva das revistas VIP, Viagem e Turismo, Playboy e Alfa. Desenvolveu o projeto editorial do roteiro de gastronomia da revista Época São Paulo (2007). Apresentou boletim diário sobre gastronomia nas rádios CBN (2008) e AlphaFM (entre 2015 e 2016). É curadora do FOOD FORUM, o maior fórum sobre comida do Brasil, e palestrante.
Sobre o blog
Foodie-se não é um blog de tendências gastronômicas.Nem de crítica de restaurantes.Nem de novidades, nem de prêmios.Foodie-se é um blog sobre comida e toda sua cadeia: campo, fábrica, pequenos produtores, grandes produtores, bares, restaurantes, animais, plantas, orgânicos, convencionais, chefs de cozinha...